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No player acima, você consegue ouvir o som de um xilofone, instrumento musical de percussão de altura definida.

Segundo levantamento da Associação Brasileira de Música e Artes, 80% dos brasileiros ouvem música todos os dias. Você faz parte desse grupo?

A audição é o primeiro sentido adquirido pelo feto e o último que se perde após a morte. Tão antiga quanto as primeiras civilizações, a música segue como companheira fiel do dia a dia. Basta um olhar breve às pessoas ao redor, seja em momentos de lazer, trabalho ou locomoção que não é difícil ver muitas delas utilizando fones de ouvido.

Já reparou que lojas, restaurantes, consultórios e até mesmo elevadores trazem sons de fundo para tornar o ambiente mais agradável?

Dançamos conforme a música. Na academia, nosso corpo clama por ritmos mais acelerados que atuam na liberação de hormônios e ajudam nos esforços físicos. Lojas utilizam músicas para mudar a atmosfera e aumentar o tempo de permanência de um cliente, podendo gerar mais vendas. Salas de espera reproduzem trilhas sonoras que podem tornar os espaços mais aconchegantes e menos tediosos. No cinema, as trilhas sonoras modulam o sentimento das cenas para o público. Durante o trabalho ou em momentos de estudo preferimos sons mais calmos que auxiliam na concentração.

Os exemplos são muitos, o fato é que diferentes áreas fazem uso dos poderes da música ao seu favor. E se essas virtudes se tornassem uma disciplina? É o que a musicoterapia faz. Você já se perguntou porquê ou parou para pensar no quanto as músicas e sons influenciam o nosso cérebro?

Os estímulos sonoros têm a particularidade de atuar em todo o sistema nervoso. Como explica a musicoterapeuta e psicomotricista Kenia Bianor, por influenciar ao mesmo tempo regiões dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro, um profissional em musicoterapia pode trabalhar num mesmo momento mais de uma situação, como questões de linguagem, motoras e emocionais. Outra peculiaridade é que a música estimula tecidos musculares e, por isso, as técnicas de musicoterapia podem ser recebidas inclusive por deficientes auditivos, que respondem ao tratamento a partir das vibrações sonoras no corpo humano. Uau!

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No player acima, ouça o som de um piano, instrumento musical de teclado, dotado de cordas metálicas que, quando percutidas por martelos recobertos de feltro, produzem som.

“Meditação”, “magia” e “coisa de hippie” são alguns termos que podem vir à mente quando escuta-se falar em musicoterapia. Os estereótipos são fomentados pelo pouco conhecimento geral sobre o tema, dada a pouca visibilidade que a área ainda tem.

No entanto, a musicoterapia não se resume a “tocar uma música que acalma”. O musicoterapeuta é um profissional da saúde e há um grande conjunto de atividades musicais e terapêuticas atrelados a esta área. A disciplina híbrida entre saúde e artes se desenvolve como qualquer outra categoria científica, baseada em pesquisas, evidências e desenvolvimento de estudos e técnicas. 

Os ramos de especialização dos profissionais são diversos, por exemplo, a musicoterapia pode ser neurológica, analítica ou comportamental. Os tratamentos visam a conquista de autonomia dos pacientes e consequente melhora na qualidade de vida. Estudos recentes indicam eficiência inclusive no tratamento de alguns tipos de câncer, como o de mama, com a música afetando o desenvolvimento de tumores.

Os tratamentos podem ser individuais ou em grupos, em clínicas, consultórios, instituições sociais e de saúde ou na casa dos pacientes. As possibilidades de aplicação são muitas: envelhecimento, infância, adolescência, processos terapêuticos, reabilitação motora, cognitiva ou de linguagem e fala. Os campos da educação e aprendizagem, autoconhecimento, desenvoltura social, luto e traumas também podem receber este auxílio terapêutico. 

 

Alguns tratamentos comuns:

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O ato de ouvir música pode melhorar as frequências cardíacas e respiratórias

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Ritmos calmos aliviam 

a tensão do dia a dia e

diminuem o nervosismo 

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Sonoridades estimulam e ativam

áreas do cérebro que despertam

memórias e emoções.

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As melodias desenvolvem interações comunicativas e

criam vínculos afetivos

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A música mantém funcionais as áreas preservadas do cérebro,

prolongando a qualidade de

vida.

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O desenvolvimento

cognitivo e emocional

do bebê pode se tornar

maior através do uso

de sons relaxantes

Em 2020, um levantamento feito pelo Instituto Ipsos apontou o Brasil como o país com mais casos de ansiedade no mundo, com registros do transtorno em mais de 41% da população. Na sequência México, com 35% dos habitantes ansiosos, e Rússia, com 32%. Se os brasileiros são, hoje, a população mais ansiosa do mundo, a musicoterapia é um recurso terapêutico com potencial para se tornar protagonista na busca por bem-estar e saúde mental no país.

Além do uso específico em temas de saúde, é possível também a aplicação no ambiente corporativo. Thiago Nistal, que é psicólogo e musicoterapeuta com atuação em empresas, pontua que a grande diferença entre os dois universos está no tempo do trabalho. “Na clínica sempre existem processos, na atuação organizacional é raro, geralmente são intervenções únicas”. 

Especialista em rítmica, Thiago exemplifica possibilidades no trabalho com grupos no contexto empresarial: “Quando a empresa pede criatividade e inovação, que está muito na moda, para desafiar esses grupos se trabalha com peças musicais sem pulso definido, o que traz insegurança e medo, pois não se tem referência de quando vai e como volta naquele ritmo. É um laboratório de como o grupo reage a isso e a análise que se faz depois da atividade é tão importante quanto a atividade em si, é ali que o grupo sedimenta aprendizados e faz conexões com o dia a dia”.

Outro campo de atuação pouco conhecido é a musicoterapia social e comunitária, direcionada a populações vulneráveis. Com tantas possibilidades, cada área provoca técnicas diferentes, como explica a musicoterapeuta social e especialista em prevenção e enfrentamento à violência Kezia Paz. “Não existe um protocolo de como a musicoterapia social e comunitária vai acontecer e o mais legal é justamente essa complexidade, já que está muito relacionada ao contexto e ao território, ao universo específico no qual o musicoterapeuta e aquelas pessoas irão se relacionar. Se for pensar num projeto na periferia da zona leste, este se dará de uma forma e com recursos diferentes do que seria no centro da cidade, porque as realidades são muito diferentes. O trabalho pode acontecer, além das instituições, com comunidades, grupos, num contexto de políticas públicas e equipamentos públicos, em projetos sociais e espaços não estritamente relacionados à saúde, como espaços culturais, por exemplo”.

Musicoterapeuta Lilian Monaro Engelmann realizando demonstração de massagem sonora com mesa lira

Marilena Nascimento, musicoterapeuta e diretora do Espaço Colmeia, tocando piano durante gravação

Musicoterapeuta Kenia Bianor demonstrando o uso de alguns exercícios realizados nas sessõs de musicoterapia 

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No player acima, ouça o som de um tambor, instrumento de percussão muito popular no Brasil.

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Para serem tocados, promovem uma força

de cima para baixo, o que representa uma

descarga do corpo. Com isso os instrumentos

de percussão estão diretamente ligados a

ritmos corporais de força, ação de

resistência e um ajuste de emoção.

Possuem uma corporeidade horizontal

que representa um fluxo de afetos. Podemos

dizer que é uma "caminhada" de emoções, o

que os profissionais chamam de "sonoridade

de engate", pois um som vem seguido

do outro.

São usados para narrativas de histórias
através dos acordes que refletem as

emoções de cada pessoa.

Contam sobre a corporalidade, ou seja, como

o corpo produz aquele som e como, naquela

cultura, ele é acolhido pelo indivíduo como

um personagem de produção dos afetos.

Desenvolvem a capacidade respiratória

e dos pulmões, além de treinar o foco e

disciplina. Esse tipo de instrumento possui

características muito próprias, e do seu

tom mais grave até o registro central,

emoções profundas são alcançadas.

A resposta é positiva. Segundo a especialista em autismo Kenia Bianor, todas as pessoas podem ser tratadas com musicoterapia, mas ela frisa a importância de pacientes e familiares saberem se o profissional em questão é um musicoterapeuta ou se é um “músico querendo ajudar”. 


“Agora tem musicoterapeutas atuando diretamente na reabilitação pós-covid. Nestes casos, os instrumentos de sopro e o canto são muito importantes. Eu já sugeri a um paciente com limitação na respiração o trabalho através de flauta e canto. O objetivo não era que ele aprendesse a tocar flauta e sim que tivesse uma maior resistência na respiração”, Mauro Anastácio, terapeuta.

 

Não há receitas prontas de uso da musicoterapia para essa ou aquela demanda como remédios, que atuam rapidamente em um sintoma. Cada paciente tem necessidades e experiências individuais, assim como cada profissional tem sua trajetória e especialidades de atendimento. A psicoterapeuta e pianista Marilena do Nascimento explica que “o terapeuta precisa agir como um pescador - jogar algumas ideias, propostas e, devagar, entender como o paciente funciona”. Para ela, o tratamento a ser desenvolvido depende também da criatividade do profissional ao definir o melhor plano terapêutico para cada caso.

Como todo tratamento, é importante primeiro conhecer o paciente para, então, ser possível optar pelas técnicas apropriadas. Você é do tipo de pessoa que consegue ativar o paladar ou o olfato ao ouvir sons e músicas? Ou sua mente cria imagens e memórias? Ou você responde fisicamente, com movimentos e dança?


Em musicoterapia, a participação ativa dos pacientes é importante para intensificar os processos. Como explica Marilena, o musicoterapeuta é o canal de comunicação entre o paciente e a música. A identidade sonora e o perfil de receptividade de cada pessoa é único e precisa ser diagnosticado pelo profissional na triagem. Optar entre um violão, instrumentos de percussão ou um piano não é uma decisão aleatória. Além da história sonora do paciente e da relação prévia que ele pode ter com determinado instrumento ou ritmo, cada instrumento musical tem potencialidades e capacidades distintas de atuação no cérebro e nos corpos das pessoas. 


Principais técnicas e indicações:

  • Musicoterapia receptiva: sonoridades ou músicas que o profissional executa para o paciente ouvir, indicado para casos de dificuldades motoras.
     

  • Musicoterapia ativa ou improvisacional: o paciente cria sons como forma de expressar e projetar sentimentos.
     

  • Musicoterapia composicional: similar ao modelo de improvisação, mas com a intervenção do profissional na criação de uma música estruturada.

 

  • Musicoterapia (re)criativa: músicas que já existem são utilizadas e têm suas letras ou melodias alteradas, facilitando que o paciente verbalize algo.

 

  • Técnicas de vibra-acústica e massagem sonora: mais adequada para jovens e adultos, é uma técnica da categoria receptiva. Focada nos efeitos das vibrações sonoras, a aplicação pode ser via voz, instrumentos ou tecnologias e busca o chamado banho sonoro, técnica oriunda dos povos originários.

 

  • Escuta musical: as músicas suscitam formas de lidar com sentimentos e o profissional tem a capacidade de entender os sentimentos cantados.


​Os aspectos culturais da sociedade e vivências de cada um influenciam na receptividade individual de cada sonoridade. Ainda assim, é possível traçar características gerais de cada categoria de instrumentos:

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Como todo tratamento em saúde, a musicoterapia também exige cuidados na aplicação e, especialmente, precisa ser feita por profissionais qualificados. “Para ser musicoterapia precisa ser um trabalho realizado dentro de um contexto terapêutico, com fundamentação e objetivos terapêuticos pré-definidos e realizado por um profissional musicoterapeuta. Um educador musical ou um professor de música ou um fisioterapeuta que é pianista não é musicoterapeuta, precisa ter formação de fato para carregar esse título”, pontua Rafael Ludovico, musicoterapeuta e professor universitário.

Embora a música pareça incapaz de causar males, há alguns cuidados a serem tomados para que a prática não seja prejudicial ao praticante. Conforme explica a psicoterapeuta com mais de 20 anos de atuação Lilian Engelmann, “as pessoas têm um imaginário de que a música sempre vai ser maravilhosa, mas não é. Se o musicoterapeuta não levar em conta a receptividade individual de cada paciente a música vai gerar problemas, como qualquer outro tratamento feito sem indicação. Antes de tudo, o musicoterapeuta analisa as características da receptividade do paciente, porque as pessoas têm reações diferentes a cada tipo de sonoridade. Caso o paciente tenha uma memória negativa com alguma sonoridade, aquela abordagem não será indicada”, esclarece a profissional.

No player acima, ouça o som de uma flauta, instrumento musical de sopro feito de diversos tipos de madeiras.

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No player acima, ouça o som de um carrilhão, instrumento de percussão formado por um teclado e por um conjunto de sinos.

 

Os primeiros registros do uso terapêutico da música referem-se ao período da 1ª Guerra Mundial, na década de 1940, quando enfermeiros de países da Europa e dos EUA passaram a tocar músicas para os combatentes feridos e percebeu-se melhoras na reabilitação destes pacientes. No Brasil, a musicoterapia é uma “jovem” de 51 anos. Surgiu por volta de 1970, com o curso de Especialização em Musicoterapia no Paraná, na antiga Faculdade de Artes do Paraná, atual UNESPAR. 

 

Com o passar dos anos e o desenvolvimento de novos estudos o tratamento foi se tornando mais conhecido, principalmente entre psicólogos e psicoterapeutas. Em 1978, a musicoterapia foi reconhecida pelo Conselho Federal de Educação como uma formação de nível superior. Na virada do século, em 2001, foi apresentado o primeiro projeto de lei propondo a regulamentação da atividade profissional e em 2010, por fim, a categoria foi incluída na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) sob o número 2263-05, um grande marco para aqueles que já atuavam na área. 

Para Rafael Ludovico, mestre em geriatria e gerontologia, essa é uma profissão em crescimento. “Trata-se de uma área emergente.  As pessoas estão começando a escutar falar e a saber dos benefícios agora. Num consenso geral, todo mundo acredita que a música faz bem, mas os trabalhos que vão fundamentar a musicoterapia estão sendo desenvolvidos agora. No nosso país ainda temos poucos profissionais que vão para a área científica, muitos acabam indo para a clínica e não desenvolvem tantas publicações”. 

O maior órgão representativo da classe no país é a União Brasileira das Associações de Musicoterapia (UBAM), criada em 1995. Lilian Engelmann, integrante do Grupo de Trabalho de Regulamentação da associação, classifica como “última etapa” o momento que a categoria vive hoje, que é a fase de tramitação de leis no âmbito federal. A musicoterapeuta e professora na área pontua que são necessárias ações políticas e leis para garantir que a profissão seja reconhecida. A partir desse ponto, uma mudança importante é que a especialidade passará a integrar as categorias atendidas em planos de saúde, por exemplo. 

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O que significa ser ou não ser uma profissão regulamentada?

Em outras palavras, regulamentar é determinar o que pode e o que não pode, o que é certo e o que é errado, o que é coisa de musicoterapeuta e o que não é. A falta de parâmetros até sobre o valor dos serviços prestados prejudica a prática da profissão. De acordo com relato de Mauro Anastacio, 1º secretário da APEMESP (Associação de Profissionais e Estudantes de Musicoterapia do Estado de São Paulo), “os profissionais se sentem de certa forma abandonados, muitas vezes recebemos na associação e-mails perguntando sobre os honorários a receber dentro de um certo espaço de trabalho”. 

A área da educação e formação também é afetada pela não-regulamentação. Como há ainda lacunas nas determinações formais sobre o que é a musicoterapia, há certa flexibilidade nas grades curriculares dos cursos de formação. Além disso, tanto os bacharéis (graduação) quanto os especialistas (pós-graduação) são considerados profissionais em musicoterapia. Mauro explica a importância da Apemesp e de outras associações regionais na fiscalização do ensino, pois, “há muitos cursos que se denominam de musicoterapia, mas que não formam o profissional musicoterapeuta”.

Atualmente há cursos em diferentes estados, em instituições públicas e privadas, mas a oferta ainda é considerada baixa, com apenas 7 cursos de graduação em musicoterapia no país e um número maior de cursos de pós-graduação. Anastácio, que também é professor de pós-graduação na disciplina, conta que por vezes sente que a demanda é maior que o número de profissionais disponíveis. “Muitas vezes uma pessoa procura a APEMESP para pedir atendimento e eu não consigo encontrar o profissional que tenha um horário ou a especialidade para atender aquele paciente”. 

Muito foi conquistado desde os anos 1970, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Thiago Nistal, musicoterapeuta e psicólogo, explica que “a musicoterapia se desenvolve conforme o avanço da educação e da saúde pública no Brasil”. O profissional considera que essas são áreas que caminham lentamente, mas acredita que a profissão caminha em um terreno fértil para evoluir.

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Na saúde pública, a musicoterapia integra a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) do SUS (Sistema Único de Saúde). Esta política disponibiliza 29 tipos de tratamentos alternativos como acupuntura, homeopatia, yoga e reiki, além da musicoterapia.

O profissional em musicoterapia também atua no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que integra o Sistema de Seguridade Social, garantido na Constituição Federal de 1988. Há 10 anos, os profissionais estão habilitados para atuar nas equipes referência do SUAS ao lado de psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, antropólogos e terapeutas ocupacionais.

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O triângulo é um instrumento feito de metal cujo som é obtido através da percussão pelo movimento do bastão  

Se você chegou até aqui, já aprendeu sobre os benefícios do tratamento e entendeu que a musicoterapia vai muito além de bater palmas, fazer barulho, ou, simplesmente aprender a tocar um instrumento, certo? Agora, convidamos você a encerrar essa jornada conhecendo as histórias da Anne Germano Longhi, da Ana Júlia Figueredo e do Thales Souza.

Anne tem três anos de idade e é uma criança sem nenhum diagnóstico prévio. Ela iniciou o processo de musicalização através de um projeto de mestrado em Neurociência e Música na UFABC (Universidade Federal do ABC), em São Bernardo do Campo. Na época, Anne tinha pouco mais de 1 ano de idade e o projeto durou 3 meses. A mãe, Juliana Longhi, conta que no começo, por ficar muito tempo ouvindo apenas músicas e batidas, acreditava que o processo não iria gerar muitos resultados. "Achava que era só uma aulinha de música. Eu não conseguia ver um resultado, mas aos poucos a gente foi vendo a diferença”, conta Juliana. 

O mesmo diz Ana Lucia Figueredo, mãe da Ana Julia, de 11 anos, que sofre de paralisia cerebral. Em uma sessão de fisioterapia a mãe recebeu a indicação de terapia com música, a qual ela ainda não conhecia o potencial. “No começo eu achava que ela ia gostar porque ela gosta de música. Achava que fazer um “barulho” ia ser legal, mas na verdade não é só isso, a musicoterapia trabalha emoções e diversas questões. Vale muito a pena!”, comenta Ana Lucia. 

Fátima Souza é mãe do Thales, de 14 anos, diagnosticado com autismo severo. Ela iniciou a busca pelos recursos necessários para o bem estar do filho quando ele tinha 3 anos e oito meses. Um dos primeiros tratamentos procurados foi a musicoterapia, mesmo com as reservas que ela tinha quanto aos procedimentos e os resultados. "Teoria e prática são diferentes, então logo nas primeiras sessões eu recebi uma ótima explicação da profissional e entendi que, na realidade, não é tocar um instrumento, mas usar o instrumento e a música para desenvolver a capacidade intelectual e o cérebro daquilo que o autista tem de mais difícil, que é a comunicação e, então, o olhar, a fala e a concentração", explica Fátima. 

Os relatos mostram que é comum desconfiar do tratamento, em um primeiro momento, mas revela também que aqueles que apostam nesse universo vasto e complexo não demoram a ver as mudanças acontecerem.

“Quando o projeto terminou a Anne fez um teste cognitivo. Ela tinha 1 ano e quatro meses e o resultado indicava a atividade de uma criança de quase 4 anos. Hoje eu tenho outro filho, um menino, bebê de pandemia, outra realidade, mas a Anne desenvolveu a fala muito mais rápido e muito melhor em comparação ao irmão. Na escola ela era a que mais falava, conseguia se desenvolver mais e achamos que era por causa do contato com a musicalização, porque não tinha outra explicação. Ela é uma criança normal, mas com uma comunicação muito melhor. Eu acho que ela não foi tão afetada assim em função da pandemia muito por causa da música, continuamos brincando e cantando” revela Juliana, mãe da Anne.

Ana Lúcia conta que a filha Ana Júlia se identificou com o tratamento de imediato. “Ela já tinha a intenção de pegar no violão, tocar as cordas, ela tentava emitir sons e, apesar de não falar, fazia a entonação tentando acompanhar. Foi uma coisa muito rápida, não demorou para ver o resultado. Senti que ela ficou muito mais falante e antes ela não tinha a intenção de conversar”. A mãe conta também que percebeu melhora em relação à postura corporal de Ana Júlia, influenciada pela vontade de tocar o instrumento, e complementa: "Eu sempre digo que a gente pode parar de fazer várias coisas, mas a musicoterapia continua. Ela realmente gosta muito”.

“A primeira mudança que percebi foi quando ele começou a olhar para a gente, ele passou a perceber que estávamos falando com ele. Antes nós o chamávamos e ele não tinha noção, não tinha a mínima resposta. Ele começou a entender e notei essa mudança com oito meses de tratamento. O interesse dele pela musicoterapia era muito grande, ele ficava feliz, sorria, e o Thales nunca sorria. Ele faz musicoterapia há 10, eu faço questão. Faz parte da história do meu filho” relata Fátima, mãe do Thales. 

E, como todo processo terapêutico, não são apenas os pacientes que sentem os benefícios, mas todos ao redor.

 

“Eu gostava muito de participar das aulas, sempre que a gente saia de lá era um dia muito gostoso, notei um bem-estar após a aula. Foi um momento importante como mãe e filha. Eu indicaria o contato com a música não só para crianças, mas para todo mundo, a música tem um poder absurdo na gente” indica Juliana Longhi.

 

“A musicoterapia pra mim foi como um garimpeiro achando ouro. Com quase 6 anos meu filho começou a balbuciar as primeiras palavras através da música. Ele só cantava, então tudo o que ele expressava era música. Eu tive esperança, a musicoterapia me deu luz, me deu caminho. Não tem preço” encerra Fátima Souza.

FALE CONOSCO: trilhadacura@aluno.saojudas.br

 

PUBLICADO EM 30 DE NOVEMBRO DE 2021

Laboratório de Produtos Jornalísticos, curso de Jornalismo da Universidade São Judas Tadeu, Campus Paulista

 

ARTE: Paloma Novais; EDIÇÃO: Karina Costa, Paloma Novais e Rodrigo Franco; REPORTAGEM: Bruna Santos, Clara Carvalho e Raisa Rocha

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